A repórter Cristina Criddle diz que foi ‘assustador’ saber que seus dados foram acessados. Cristina Criddle foi informada pelo TikTok dados pessoais de sua conta haviam sido acessados por funcionários da rede
ROBERT TIMOTHY/BBC
Dois dias antes do Natal passado, o TikTok ligou para a jornalista Cristina Criddle, de Londres, para dizer a ela que dois funcionários da empresa na China e dois nos EUA haviam visualizado os dados de usuários de sua conta pessoal sem seu conhecimento ou consentimento.
“Foi realmente assustador e horrível, uma violação”, diz ela.
“Eu estava na casa da minha família com minha irmã adolescente, meus primos adolescentes — e todos eles usam o TikTok o tempo todo. Eles ficaram se perguntando: ‘Uau, devemos nos preocupar?’.”
O que aconteceu com Cristina — correspondente de tecnologia do jornal britânico Financial Times, além de amiga e ex-colega minha — é o que o TikTok e sua empresa controladora, a ByteDance, sempre negaram que aconteça, e é por isso que ela decidiu contar à BBC News.
‘Verdadeira ameaça’
O TikTok confirmou que membros de seu departamento de auditoria interna analisaram a localização do endereço IP de Cristina — o número único de um dispositivo — e o compararam com dados de IP de um número desconhecido de sua própria equipe, para tentar identificar quem estava se encontrando secretamente com a imprensa.
Eles “usaram indevidamente sua autoridade” para fazer isso e estavam agindo sem autorização.
Cristina não sabe por quanto tempo foi rastreada, nem com que frequência, mas sabe que aconteceu no verão passado.
“Se minha localização estivesse sendo monitorada 24 horas por dia, 7 dias por semana, isso não se limitaria apenas às minhas ações no trabalho — mesmo que se limitasse, não seria OK —, mas também à minha vida pessoal”, diz ela.
“Era quando eu estava saindo com meus amigos, quando eu estava de férias, todas essas coisas estão lá.”
“A verdadeira ameaça e o mais assustador é que eu estava apenas tentando fazer meu trabalho.”
A conta de Cristina no TikTok estava em seu celular pessoal — e em nome de sua gata, Buffy. Seu próprio nome e profissão não estavam mencionados na bio.
Ela tinha cerca de 170 seguidores e, ao longo de três anos, havia publicado cerca de 20 vídeos de Buffy, visualizados, em média, algumas centenas de vezes.
A gata de Cristina no TikTok
BBC
Assim como a maioria das plataformas de rede social, o TikTok coleta muitas informações sobre os donos de suas contas, incluindo:
Dados de localização;
“Curtidas”;
O dispositivo que está sendo usado;
Atividade online fora da própria plataforma.
Os dados dos usuários ocidentais nunca são acessados ou armazenados dentro da China, diz a empresa.
E a equipe responsável pela violação de dados de Cristina e de um punhado de outros jornalistas ocidentais, no ano passado, foi demitida por conduta imprópria.
A ByteDance, proprietária do TikTok, disse que “lamenta profundamente” o que descreveu como uma “violação significativa” de seu código de conduta e está “comprometida a garantir que isso nunca aconteça novamente”.
‘Ser rastreado’
No verão passado, Cristina havia conversado com funcionários do TikTok insatisfeitos com as práticas da empresa. A violação de dados não conseguiu identificar suas fontes, segundo o TikTok.
Ela diz que eles também podem ter violado o rígido Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia, que afirma que os usuários devem consentir ativamente com a forma como seus dados são usados. As penalidades para as empresas que não cumprem são grandes.
Por enquanto, Cristina manteve sua conta aberta porque ainda precisa acessar o TikTok para o trabalho — mas o aplicativo agora fica em um aparelho mantido em seu local de trabalho. E ela reduziu o uso de rede social dela e de Buffy em outras plataformas como resultado do que aconteceu.
“Eu realmente tive que pensar sobre a minha segurança — sobretudo minha segurança digital”, diz ela.
“Estou supercuidadosa agora. Tenho que garantir que não haja chance de meus dispositivos serem rastreados. Tenho que garantir que minhas fontes também estejam cientes dos possíveis desafios à segurança delas.”
‘Investigação adicional’
O especialista em segurança cibernética Alan Woodward, da Universidade de Surrey, no Reino Unido, disse que esse nível de rastreamento “não pode ser descrito como acidental, nem sequer incidental”.
“Alguém teve que fazer uma investigação adicional para descobrir que a conta do gato era de fato de Cristina”, diz ele.
O TikTok está lutando para sobreviver nos EUA — e o acesso a ele já foi restrito em dispositivos oficiais em vários outros países.
A ByteDance tem sede em Pequim — embora também tenha escritórios na Europa e nos EUA —, e há preocupações de que ela possa compartilhar dados de usuários ocidentais com o governo chinês, se isso for requisitado.
No entanto, o app continua extremamente popular, somando mais de 3,5 bilhões de downloads em todo o mundo.
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