Rodinei Crescêncio/Rdnews
Existe uma forma de encarar o mundo que, quando alcançada, posso garantir que é quase como tocar o céu. Esse mundo externo, a realidade em que você vive, às vezes doce, às vezes dura, e outras vezes muito dura, terá o peso proporcional à forma como você o interpreta, traduz e encara.
Talvez, ao fazer esse apontamento, eu seja julgada por alguns como uma romancista, uma poetisa iludida – talvez por aqueles que não me conhecem profundamente. E está tudo bem, pois isso pouco importa. Se estas palavras servirem para expandir minimamente sua consciência, eu já terei cumprido parte da minha missão e propósito. Por estar atenta, fui conduzida, e ainda sou, por pessoas incríveis, que me ensinam algo novo a cada dia. E é com esse aprendizado que busco trazer mais humanidade ao ambiente de negócios, principalmente onde a vida me direcionou com mais força. Eu me permiti e tenho me empenhado em também agir sobre essa correnteza forte à qual fui guiada.
A vida nos dá sinais o tempo todo sobre o nosso lugar no mundo. O ponto é que, muitas vezes, queremos sobrepor e impor nossas próprias formas, e ao fazer isso, acreditando que temos total controle, deixamos de nos permitir seguir nos fluxos para os quais somos direcionados. Assim, deixamos de compreender como seremos guiados em nossa jornada por uma força maior, que eu chamo de Deus.
“Quando você sai da caverna da ignorância, pode realmente encontrar o auge da felicidade”
Este é um dos despertares da alma que tenho mencionado ultimamente: a ampliação da consciência sobre o verdadeiro propósito do universo, que é a evolução. Como um mestre certa vez mencionou em um encontro de aprendizes, a evolução é a meta universal. Outro mestre, em outra ocasião, complementou: missões são dadas a cada ser humano, e cabe a ele decidir e agir para cumpri-las ou não. E, para essas decisões e escolhas, haverá consequências.
Para mim, é claro: existe ambiente mais propício para a evolução humana do que a oportunidade de vivermos em comunidade? Quando encontramos nossa tribo, que se conecta com o mesmo propósito, missão e senso de contribuição para o outro e para o meio, com valores compartilhados, essa experiência se torna tão rica, tão poderosa, que posso garantir: quando você sai da caverna da ignorância, pode realmente encontrar o auge da felicidade. Nesse ponto, suas escolhas estão conectadas à sabedoria de uma força maior, que tem como grande meta formar pessoas boas para um mundo melhor – um mundo que é possível para cada um de nós, desde que encaremos a jornada com atenção às interferências que surgem ao longo do caminho.
Muitas vezes, a forma como isso ocorre é simples – nunca simplória, mas simples e profunda – na sua individualidade, na sua família, no seu trabalho, seja no que garante sua remuneração, seja no trabalho a nível de propósito. Esse é o tipo de trabalho que, mesmo que você tivesse todo o dinheiro do mundo e não precisasse mais trabalhar para se sustentar, ainda assim faria por toda a vida, enquanto tivesse forças, por entender que se trata de uma contribuição que te engrandece. Não no sentido do ego ou da vaidade, mas como ser humano, trazendo a paz e a felicidade de saber, no fundo do coração, que sua consciência é ampla e, assim, sua capacidade de influenciar e sentir a felicidade em fazer o bem melhora o mundo ao seu redor e a si mesmo.
Nas empresas, gosto de trazer à tona a diferença entre cumprir uma função e aplicar uma missão no trabalho que é realizado. Por exemplo, certa vez, durante um treinamento, perguntei a um consultor imobiliário sobre o seu dia a dia e essencialmente o que ele fazia. Ele me respondeu: “Eu sou do comercial e sou responsável pela venda e aluguel de casas.”
Nesse momento, ele me mostrava a consciência funcional do seu trabalho, um estágio onde muitos profissionais se encontram. Poucos são aqueles que desenvolvem uma consciência mais profunda de propósito, entendendo que o que fazem tem uma dimensão muito maior. Não estou falando de um discurso motivacional vazio, mas de algo verdadeiro, que só pode ser sentido em um nível de consciência ampliada.
“Pessoal, vocês não alugam casas simplesmente; vocês alugam lares. Vocês vendem lugares que vão proteger e, de certa forma, cuidar. Vocês vendem o ninho de uma pessoa, de uma família. Todo o processo de alugar ou vender reflete transições na vida de alguém, carregadas de emoções, pois esses movimentos podem significar uma conquista, uma perda, uma ressignificação, uma escolha de transformação ou mudança – algo tão importante. Vocês conseguem enxergar isso? Percebam o quanto isso carrega emoções profundas: ansiedade, alegria, insegurança, tristeza, medo…”
Quando um trabalhador percebe seu trabalho em um nível mais profundo, é impossível que ele seja um profissional medíocre, pois, a partir desse ponto, ele estará em um fluxo de trabalho muito mais significativo, que exigirá dele preparo, dedicação e empenho. Encarando esse fluxo maior de forma livre e fluida, ele se verá diante de desafios maiores, mas que, certamente, serão muito engrandecedores.
Para que uma pessoa possa atingir um nível tão profundo de compreensão sobre seu trabalho, movendo-se por meio de vários grupos na vida – desde os mais íntimos até os mais amplos –, ela precisará ter a coragem de sair da caverna da ignorância, inevitavelmente enfrentando o sofrimento do processo. Mas, ao final, será imensamente recompensador.
Lembro-me de seu José, que por um bom período trabalhou na portaria do prédio, ora na garagem, ora na guarita, durante o período noturno. Todos os dias, para cada carro que entrava, ele acenava com um sorriso no rosto e com as mãos energeticamente abanando, cumprimentava. “Eu vejo você. Oi, seja bem-vindo…”. Seu José foi embora da prédio, mas se tornou inesquecível, pois compreendia seu papel em um nível muito mais profundo do que a função para a qual foi contratado – abrir e fechar uma porta, um portão. Depois que ele saiu, os demais seguiram, na maioria, como bons executores de um trabalho que lhes permite pagar suas contas em uma vida sofrida. Garanto que isso tem pouco a ver com remuneração e muito mais com nível de consciência.
Talvez você tenha sido tocado por essa interpretação compartilhada aqui… Um caminho? Invista na jornada do autoconhecimento. Comece por você, e à medida que ampliar sua capacidade de entrega na vida, mais responsabilidades lhe serão confiadas. Honrando as missões que lhe forem dadas, lindas recompensas surgirão diariamente na forma de pequenos milagres que, quando despertos, você reconhecerá.
Cynthia Lemos é psicóloga e empreendedora; fundadora da Grandy Psicologia Empresarial e escreve neste espaço quinzenalmente às quintas-feiras