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Mato Grosso sempre foi inspiração para as modas de viola e garantiu sua presença no universo musical em todo o país, mas há algum tempo é no cinema que as paisagens mato-grossenses têm ganhado espaço e construído uma identidade na produção do audiovisual nacional. Nessa leva, o longa-metragem “O Anel de Eva”, lançado em 13 de junho deste ano, se tornou o primeiro filme produzido no estado a entrar no circuito comercial, com exibições em salas de cinema fora do estado – marco que registra a escala da qualidade e reconhecimento do cinema de Mato Grosso.
Por aqui também já foi produzido o filme “Loop”, estrelado pelo ator Bruno Gagliasso, que conquistou os prêmios de Melhor Filme, Atriz e Montagem no Manchester Film Festival e também de melhor ator no Los Angeles Brazilian Film Fest. Outra produção premiada é o longa a “A Batalha de Shangri-lá”, de Severino Neto, com horarias no Oslo Film Festival, Jakarta Independent Film Festival, Montreal Independent Film Festival, Cinemato e Festival de Cinema de Caruaru.
“Sem dúvida, esse marco é de grande valia, dá uma projeção nacional para o audiovisual e pro cinema que é produzido aqui”
Sandro Lucose
Assim como essas produções, um dos pontencias de “O anel de Eva” é que é que o filme não traz uma história sobre a vida sertaneja. No seu roteiro, o filme coloca Mato Grosso como um cenário de um thriller-drama que aborda a eugenia nazista, ambientalizado nas cidades de Cuiabá e Cáceres. O longa é protagonizado pela atriz Suzana Pires e o ator Odilon Wagner, com direção de Duflair Barradas.
Quem também está no rol dos papéis principais é o ator e produtor cultural cuiabano, Sandro Lucose, que interpreta o personagem Pedro. Em entrevista ao , ele ressalta a qualidade do cinema e produções audiovisuais nascidas em territórios mato-grossenses.
“Nós temos vários filmes, longas, médias, curtas premiados que foram produzidos aqui em Mato Grosso. Mas, O anel de Eva é o primeiro longa-metragem produzido aqui que entra em circuito comercial. Sem dúvida, esse marco é de grande valia, dá uma projeção nacional para o audiovisual e pro cinema que é produzido aqui, mostra que nós temos aqui gente de qualidade, produtos de qualidade, e ressalta que o que a gente precisa é de espaço. E eu acredito que a qualidade do “O anel de Eva” faz exatamente isso, e assim uma distribuidora de São Paulo identifica essa potência e distribuí em circuito nacional”, destaca o ator.
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Sandro Lucose, que interpreta o personagem Pedro, destaca marco do filme no circuito comercial e frisa o tado da produção fugir do olhar esteriotipado
Longe dos estereótipos, com foco no protagonismo
“O filme vai falar de poder. Não é um filme estereotipado regional, ele não vai falar de nosso modo de falar ou coisas assim”
Sandro Lucose
Segundo Lucose, uma característica importante de uma produção realizada em Mato Grosso é que foge do olhar estereotipado sobre o estado e permite contar uma história comum a múltiplos públicos e diversos ambientes.
“A exemplo do “O Anel de Eva”, as questões que estão ali são diversas. Com certeza, eu posso dizer que no filme tem a questão de se passar em Cáceres e referência ao Pantanal, mas é uma história que poderia sim acontecer em qualquer lugar. A gente sabe que o mote do argumento original é a existência de células nazistas e Mato Grosso é colocado como um desses lugares que poderia sim ter sido esconderijo refúgio para essas pessoas”, explica ele.
“O filme vai falar de poder. Não é um filme estereotipado regional, ele não vai falar de nosso modo de falar ou coisas assim. Ele tem seus aspectos rurais, que podem ser encontrados em diversas localidades”, completa.
Outro ponto destacado pelo ator é a oportunidade que os artistas do estado conquistam com as produções locais. Além de visibilidade, são escolhidos para papéis de destaque que, por vezes, não são possíveis em filmes produzidos em outros estados.
“Assumimos o protagonismo desses projetos e eu acho que esse também é um poder do audiovisual em relação aos artistas locais. É a primeira vez que eu estou no elenco principal, não estou como protagonista, mas estou no núcleo principal, na minha carreira já fiz muitas participações, mas papel de destaque é em uma produção daqui. Então a minha reivindicação é que realmente se pense em projetos onde os artistas locais possam ter visibilidade”, enfatiza o ator.
Sobre futuras produções, Lucose defende que é preciso ter mais histórias oriundas de Mato Grosso. “Eu acho que a gente precisa sim ter mais histórias nossas, não sei se é o diferencial, mas acho que a gente precisa ter essas nossas próprias narrativas sobre os mais diversos contextos, abordar assuntos a partir das nossas perspectivas”, completa.
Lotar cinemas e ampliar o acesso
Ao defender o cinema mato-grossense, o produtor cultural afirma não ter dúvidas sobre qualidade das produções e reconhece que o volume não é maior devido ao baixo incentivo.
“Eu acho que a gente tem sim um aumento considerável das produções e da qualidade, assim como esse crescimento melhora a qualidade do que vem sendo produzido. Infelizmente, não se produz mais porque realmente falta recurso e é preciso investir no audiovisual. As leis de incentivo são meios de se fazer isso, mas o setor precisa ser valorizado para chegar nas salas de cinema”, argumentou Lucose.
Ainda sobre a distribuição, o ator também pondera que é preciso ampliar o acesso das produções ao público geral.
“Eu acho que a distribuição desses produtos para o grande público precisa se preocupar também com aquele público que geralmente não têm acesso a uma sala de cinema. É preciso levar as produções para escolas públicas, onde estão o público em formação, fazer com que esses produtos circulem em cidades de 10 a 15 mil habitantes. Por isso, eu acho que é dever do Estado fazer com que os produtos gerados com recursos públicos sejam acessados por todos”, completa o artista.