Nova presidente da Petrobras promete 'rentabilidade que o mercado espera' e alinhamento com Lula


Evento na tarde desta quarta-feira (19), no Cenpes, na Zona Norte do Rio, marca oficialmente o início da gestão de Magda Chambriard na empresa. Ela assume o cargo após a saída de Jean Paul Prates, em maio. Posse de Magda Chambriard como presidente da Petrobras
Raoni Alves
Durante cerimônia de posse como presidente da Petrobras, Magda Chambriard prometeu prezar por “resultados empresariais robustos” e manter uma visão alinhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A nova dirigente da estatal assume o cargo em solenidade nesta quarta-feira (19) no Rio de Janeiro, com a presença de Lula.
Engenheira e profissional de carreira da companhia, Magda foi indicada para a função pelo chefe do Planalto após a demissão de Jean Paul Prates do cargo, em maio.
Magda Chambriard toma posse como presidente da Petrobras
“Muitos me perguntam o que vamos fazer, e está registrado no nosso planejamento, potencial para gerar empregos diretos e indiretos, expressivos recursos para estados e municípios, vamos tornar realidade o que foi planejado com celeridade, vamos zelar pela governança, e por resultados empresariais robustos, com eficiência e rentabilidade que o mercado e o Brasil esperam de nós”, declarou Magda.
Ela também afirmou que vai conduzir em uma gestão “totalmente alinhada com a visão de país do presidente Lula e do governo federal, afinal, são nossos acionistas majoritários”.
Magda Chambriard: Petrobras estará alinhada ao governo
Lula defendeu que a petroleira tem um papel social para a economia do país, mas que “ninguém quer acionista com prejuízo”.
“É preciso que prevaleça a verdade para o povo brasileiro. Ninguém quer que nenhum acionista tenha 1 centavo de prejuízo, se investiu tem direito a ter o seu retorno do investimento, ninguém quer isso, ninguém quer que a Petrobras seja empresa deficitária, que ela perca dinheiro”, declarou o presidente.
Em alguns momentos deste terceiro mandato, a gestão de Lula vem sendo criticada por setores do mercado por uma política intervencionista na Petrobras.
Foz do Amazonas
Durante o pronunciamento, Magda também se comprometeu com a condução de uma gestão pautada pela transição energética, e pelo respeito à biodiversidade e ao meio ambiente.
“As reservas de petróleo e gás do Brasil são finitas, nossa segurança energética durante a transição justa passa pela sua reposição. É fundamental desenvolver as fronteiras como a margem equatorial e do Sul do Brasil. Mas, iremos desenvolver com padrão de segurança, conformidade com a legislação ambiental e licenciamento”, declarou.
A fala da nova presidente é importante também porque cita um embate entre a Petrobras e o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Marina Silva. No caso, a nova presidente da petroleira defendeu a exploração de petróleo na margem equatorial, que engloba parte da Amazônia.
Ao se referir à transição energética, defendida por Marina, a nova presidente da Petrobras afirmou que o petróleo será o financiador do movimento. Por isso, o Brasil deve explorar novas reservas.
“Alguém tem que financiar essa transição, é fundamental investimento de exploração e produção. Esses investimentos representam 70% do nosso orçamento total. Não existe falar em transição energética sem falar quem vai pagar a conta e é o petróleo que vai pagar essa conta.”
A margem equatorial se estende por mais de 2,2 mil km ao longo da costa entre o Rio Grande do Norte e o Oiapoque, no Amapá. A região é considerada a mais nova fronteira exploratória brasileira em águas profundas e ultraprofundas, e já foi chamada de “novo pré-sal”.
A decisão de explorar a região é criticada por ambientalistas que apontam riscos de tragédias ambientais. Marina Silva também foi enfática ao se manifestar contrariamente ao projeto.
Em maio, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) negou o pedido de licença da Petrobras perfurar poço de petróleo no litoral do Amapá. À época, Marina disse que a decisão foi técnica e que teria que ser respeitada.
Nessa terça-feira (18), em entrevista à rádio CBN, o presidente Lula disse que o Ibama e outras pastas podem ter posições diferentes, mas que o governo não poderia abrir mão de explorar uma riqueza para o país.
Durante a cerimônia, o ministro de Minas Energia, Alexandre Silveira, também defendeu a exploração na região e disse ser uma questão de “soberania nacional” e que o Brasil precisa repor as reservas de combustível fóssil.
“A Petrobras do Brasil tem que proteger o meio ambiente e compromisso social, a Petrobras tem que promover uma transição energética, a Petrobras do povo brasileiro, precisa de segurança energética com a reposição da nossa reserva de gás e petróleo, a margem equatorial é questão de soberania nacional.”
Dividendos
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembrou o papel da petroleira estatal na economia do país, como uma empresa que “sabe prestar contas aos acionistas” mas não abre mão do papel no desenvolvimento nacional.
Ele também fez referência à distribuição de dividendos, assunto que gerou desgaste na gestão passada.
“A Petrobras é vista como uma geradora de dividendos e royalties. O discurso da Magda foi tão abrangente que ele representa aquilo que nos esperamos de uma empresa, uma visão estratégica, que sabe que deve prestar contas aos seus acionistas, mas que tem um papel no desenvolvimento nacional.
Em alguns momentos deste terceiro mandato, a gestão de Lula vem sendo criticada por setores do mercado por uma política intervencionista na Petrobras.
Um dos exemplos mais marcantes foi em abril deste ano, quando, ao divulgar os resultados financeiros, a empresa disse que não pagaria todo os dividendos extraordinários. A estratégia, alinhada com o Palácio do Planalto, visava robustecer o caixa e empolgar investidores. Mas foi vista no mercado como interferência excessiva. As ações da estatal tiveram forte queda no dia seguinte.
A queda do antecessor de Magda, Jean Paul Prates, se deu exatamente no contexto da pressão que ele vinha sofrendo entre o mercado e o Palácio do Planalto (relembre a polêmica aqui).
Posição de Magda
Em entrevista recente, Magda comentou sobre a questão. Ela disse que a empresa vai “respeitar a lógica empresarial” no que se refere a distribuição de dividendos, tópico de constante debate nas últimas gestões da companhia.
“Nós vamos respeitar a lógica empresarial. Não há como gerir uma empresa dessas sem respeitar a lógica empresarial. Dando lucro, sendo tempestivo, atendendo os interesses tanto dos acionistas públicos quanto dos privados, nós vamos fazer”, afirmou no final de maio, na sede da empresa, no Rio.
Antes da posse, Lula esteve com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e assinou um acordo com dois financiamentos para o município que ultrapassam o total de R$ 1 bilhão.
Os contratos firmados são de R$ 950 milhões pelo Banco do Brasil e R$ 141 milhões pela Caixa Econômica Federal. O objetivo é investir em obras de infraestrutura e no sistema de BRT no Rio.
Currículo
Formada em engenharia civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Magda Chambriard é mestre em engenharia química. Ela também tem especializações em engenharia de reservatórios e avaliação de formações, além de produção de petróleo e gás.
A engenheira começou a trabalhar na Petrobras em 1980, atuando na área de produção por mais de 20 anos. Em 2012, ela assumiu a diretoria-geral da ANP, onde permaneceu até 2016. Enquanto esteve no cargo, liderou estudos técnicos que resultaram na primeira licitação do pré-sal.
Magda Chambriard: quem é a engenheira que assume a presidência da Petrobras
Desde 2021, a engenheira atua na Assessoria Fiscal Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ela também é sócia da empresa Chambriard Engenharia e Energia.
No ano passado, em uma rede social, Magda fez um publicação sobre a posição de mulheres no governo.
“Aqui cabe uma pergunta: quantas mulheres têm cargo de chefia na parte operacional da Bacia de Santos na Petrobras? Muito provavelmente serão de lá os futuros gerentes”, escreveu, acrescentando que era necessário haver mulheres buscando esses espaços.

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