Veja trechos de reunião entre Bolsonaro e ministros antes das eleições de 2022


Imagens foram apreendidas pela PF em computador do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid. No encontro, então presidente fez ataques infundados às eleições e pediu ações ‘contundentes’. Reunião de Bolsonaro e ministros investigada pela PF
Reprodução
No vídeo apreendido pela Polícia Federal com imagens de uma reunião entre o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e ministros do governo dele, Bolsonaro aparece fazendo ataques infundados à lisura das eleições e pedindo ações dos ministros para disseminação das informações falsas antes da votação de 2022.
A PF encontrou o vídeo no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Cid firmou acordo de delação premiada com a Polícia Federal, já homologado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O material foi uma das bases que fundamentou a operação da PF desta quinta-feira (8), que mirou Bolsonaro, ex-ministros do governo dele e militares (veja mais abaixo).
Trechos do vídeo da reunião foram divulgados pela jornalista Bela Megale, do jornal O Globo. O blog também teve acesso ao material.
Veja abaixo trechos da reunião:
Bolsonaro convoca a ministros a agirem nas eleições:
Bolsonaro convoca ministros a agirem nas eleições
Em um dos trechos, Bolsonaro cita as eleições e diz aos ministros que eles não podem deixar “acontecer o que está pintado”.
“Nós não podemos, pessoal, deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado, está pintado. Eu parei de falar em voto imp… e eleições há umas três semanas. Vocês estão vendo agora que… eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes.”
Segundo a PF, na reunião, o então presidente ordenou a disseminação de informações fraudulentas para tentar reverter a situação na disputa eleitoral.
“Nós sabemos que, se a gente reagir depois das eleições, vai ter um caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha, uma fogueira no Brasil. Agora, alguém tem dúvida que a esquerda, como está indo, vai ganhar as eleições? Não adianta eu ter 80% dos votos. Eles vão ganhar as eleições”, disse.
‘Vamos esperar o quê?’, diz Bolsonaro
Em outro trecho, também em referência às eleições, Bolsonaro volta a cobrar ações dos ministros e diz: “Vamos esperar o quê?”.
“Alguém tem dúvida do que vai acontecer no dia 2 de outubro? Qual resultado que vai estar às 22h na televisão? Alguém tem dúvida disso? Aí a gente vai ter que entrar com um recurso no Supremo Tribunal Federal… Vai pra puta que o pariu, porra. Ninguém quer virar a mesa, ninguém quer dar o golpe… Ninguém quer botar a tropa na rua, fechar isso, fechar aquilo… Nós estamos vendo o que está acontecendo. Vamos esperar o quê?”
Bolsonaro diz que TSE cometeu um erro e se beneficiou disso
Bolsonaro diz que TSE cometeu um erro e se beneficiou disso
Em outro momento, o então presidente afirma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria cometido um “erro” ao deixar as Forças Armadas participarem da Comissão de Transparência Eleitoral, criada para aprimorar o processo de eleições.
Para Bolsonaro, a medida teria sido “excelente” para o governo dele, pois à época, ele tinha o comando sobre as Forças Armadas.
“O TSE cometeu um erro quando convidou as Forças Armadas a participar da Comissão de Transparência Eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Para nós, foi excelente. Esqueceram que eu sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, afirmou na reunião.
Bolsonaro fala que liberdade está em jogo e que é preciso reagir
Bolsonaro fala que liberdade está em jogo e que é preciso reagir
Em um trecho, Bolsonaro apresenta argumentos aos ministros para convencê-los a tomar medidas “mais contundentes”.
“A gente vê o que está acontecendo, está na nossa cara. A guerra de papel e caneta, a gente não vai ganhar essa guerra. A gente tem que ser mais contundente, como eu vou começar a ser com os embaixadores”, disse.
Bolsonaro afirmou que a liberdade estava em jogo. “O que tá em jogo é o bem maior que nós temos enquanto estamos aqui na Terra, que é a p… da liberdade. Mais claro impossível. Nós [ínaudível]… vamos ter que reagir.”
Bolsonaro propõe nota conjunta dos presentes para dar credibilidade a tentativa de golpe
Bolsonaro propõe nota conjunta de todos os presentes na mesa para dar credibilidade a tentativa de golpe
O então presidente também pediu aos presentes da reunião que articulassem para que órgãos como a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU), e até entidades externas como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), fizessem uma nota afirmando que seria “impossível” atingir as condições necessárias para garantir a lisura das eleições de 2022.
Ataques a ministros do STF
Bolsonaro dispara ataques aos ministros do STF durante reunião ministerial de julho de 2022
Na reunião, Bolsonaro também disparou críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Alguém aqui acredita em Fachin, Barroso, Alexandre de Moraes? Se acreditar, levanta o braço. Acredita que são pessoas isentas, estão preocupadas em fazer Justiça, seguir a Constituição? De tudo que estão vendo acontecer?”, disse.
O então presidente afirmou ainda que o fato de ocupar a Presidência da República era algo incomum.
“Essa cadeira aqui é uma cagada, estar comigo é uma cagada. Vou explicar a cagada. Não vai ter uma cagada dessa no Brasil. Cagada do bem, deixar bem claro. Como é que eu ganho uma eleição? Um fudido, um fudido como eu, deputado baixo clero, escrotizado dentro da Câmara, sacaneado, gozado. Uma porra de um deputado, uma porra de um deputado, de 513. Não consigo entender como alguns não entendem o que está acontecendo.”
Bolsonaro critica STF em reunião investigada pela PF e diz que ‘é difícil ganhar o jogo’
Em outro momento, afirma:
“O nosso Supremo é um poder à parte, um super Supremo, ele decide o mundo. Muitas vezes, fora das quatro linhas. Não dá pra gente ganhar o jogo com o pessoal atirando tijolo da arquibancada em cima dos jogadores nossos. Um juiz que toda hora dá impedimento quando a gente ataca, mesmo que o cara saia driblando da rede até fazer o gol, o juiz dá impedimento. É difícil a gente ganhar o jogo assim. Agora, as consequências do jogo, todo mundo vai pagar”.
A operação
Havia 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva para serem cumpridos na operação Tempus Veritatis (que significa “hora da verdade”, em latim), que foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes. Veja aqui todos os alvos da operação.
O passaporte de Jair Bolsonaro foi apreendido e ele está proibido de falar com os investigados.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi alvo de um mandado de busca, mas acabou preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo. Uma pepita de ouro foi apreendida com ele.
Na sede do PL, foi encontrado na sala de Bolsonaro um documento que defende e anuncia a decretação de um estado de sítio e da garantia da lei e da ordem no país.
O relatório da PF afirma que o grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Veja detalhes aqui.
Nomes próximos ao ex-presidente, como Braga Netto e Augusto Heleno, também foram alvos de busca e apreensão.
O ex-assessor especial de Bolsonaro Filipe Martins, que, segundo a PF, foi quem entregou a minuta do golpe a Bolsonaro, e mais dois militares foram presos. Um quarto mandado de prisão foi expedido contra um coronel, mas ele não foi detido porque estava nos Estados Unidos, mas já será trazido ao Brasil. Veja aqui os motivos da Procuradoria-Geral da República para pedir as quatro prisões.
A operação mirou ainda o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, com quem já havia sido encontrada uma minuta do golpe, e o ex-assessor de Bolsonaro Tércio Arnaud, apontado como integrante do chamado “gabinete do ódio”. Eles são acusados de integrar um núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral.
O advogado Amauri Feres Saad, que teria prestado assessoria jurídica para a elaboração da minuta, também foi alvo da PF.
Outro alvo foi um padre católico conservador de Osasco (SP) que, segundo a PF, assessorava na elaboração de minutas de decretos golpistas.

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