Após um 2023 marcado por várias demissões no mundo dos games, 2024 está se provando ainda mais brutal para os profissionais que trabalham no meio. Somente em janeiro, a indústria já testemunhou mais de 5 mil cortes, ou 54% do número de desligamentos realizados durante todo o ano anterior.
Um dos nomes mais recentes a anunciar uma redução em suas equipes foi a Microsoft, que encerrou mais de 1,9 mil vagas na Activision Blizzard. Segundo a companhia, isso é fruto do processo de finalização da compra da publicadora e envolve a eliminação de redundâncias em sua nova estrutura.
A Microsoft demitiu funcionários da Activision Blizzard devido a redundâncias.Fonte: Divulgação/Xbox
Nas últimas semanas, empresas como a Unity e a Riot Games também anunciaram reduções em suas equipes, e um discurso em comum já está se estabelecendo entre muitos estúdios. Abaixo, você pode ver algumas das demissões em massa registradas no primeiro mês de 2024, de acordo com lista compilada pelo Kotaku Australia:
- Bossa Studios (Goat Simulator) – 19 pessoas
- Unity (empresa de software) – 1800 pessoas
- Twitch (empresa de streaming) – 500 pessoas
- Playtika (mobile) – 400 pessoas
- Discord (comunicação) – 170
- Lost Boys Interactive (parte da Embracer) – 125
- PTW (estúdio de QA e suporte) – 45 pessoas
- Thunderful (Steamworld Build) – cerca de 100 pessoas
- Wimo Games (estúdio de VR) – 35 pessoas
- Behaviour Interactive (Dead By Daylight) – 45 pessoas
- CI Games (Lords of the Fallen) – cerca de 20 pessoas
- Metaverse World (estúdio focado em metaverso) – 70 pessoas
- People Can Fly (Outriders) – mais de 30 pessoas
- Black Forest Games (Destroy All Humans) – cerca de 50 pessoas
- Riot Games (Valorant e League of Legends) – 530 pessoas
- Microsoft (Xbox e Activision Blizzard) – 1900 pessoas
Em geral, as empresas justificam suas decisões como uma forma de “se readequar a condições do mercado” e fazer correções de rumo após períodos de contratações exageradas.
Por que há tantas demissões no mundo dos games?
Um dos principais motivos pelos quais muitas empresas estão demitindo é o crescimento que o mercado de games teve durante a pandemia da COVID-19. No período mais intenso do isolamento social, muitas pessoas descobriram nos jogos uma forma de ter um entretenimento duradouro e seguro.
Isso fez com que muitas empresas tivessem saltos consideráveis em suas receitas, o que levou a uma grande animação para fazer novos investimentos. No entanto, com a normalidade se estabelecendo e as pessoas podendo sair novamente de casa, o mercado de games desaqueceu e não testemunhou o grande crescimento contínuo que alguns esperavam.
Boa parte do problema pode ser atribuído a decisões precipitadas de equipes de liderança, que não souberam gerenciar expectativas ou perceber que a pandemia representava um ponto fora da curva. Também não ajudou o fato de que, durante anos, os orçamentos de jogos Triplo A estão aumentando em ritmo acelerado.
Nem mesmo grandes sucessos protegem estúdios de demissões.Fonte: Divulgação/PlayStation
O vazamento recente da Insomniac mostra que, mesmo tendo vendido milhões de cópias de Spider-Man e sua sequência, o estúdio estava sendo pressionado a demitir partes de suas equipes para conseguir equilibrar as contas. Para evitar isso, seria preciso vender uma quantidade praticamente impossível de games.
O aumento da inflação global também fez com que o dinheiro se tornasse mais caro, especialmente para quem precisa pegá-lo emprestado. Isso significa que estúdios precisam apertar um pouco os cintos na hora de criar novos games, que despertam menos atenção de investidores de risco.
Como o sucesso de um jogo nunca está garantindo, muitos dos financiadores desse tipo de projeto simplesmente se direcionaram para segmentos mais seguros. Aqueles que restaram precisam de mais garantias de retorno e acabam tendo influência direta sobre os orçamentos e tamanhos das equipes dedicadas a cada título.
Perspectivas são negativas
A grande quantidade de demissões também é explicada pela pressão que o mercado de tecnologia está exercendo rumo a uma redução no salário de seus funcionários. Após Elon Musk demitir boa parte da força de trabalho do X (antigo Twitter) e reduzir benefícios com relativo sucesso, outros executivos viram que podiam fazer movimentos semelhantes e sair em vantagem.
Curiosamente, o mercado japonês ficou relativamente protegido de todos esses movimentos recentes. Isso pode ser explicado pelo fato da indústria local se focar mais em títulos de médio orçamento e ter abraçado com força o Nintendo Switch, cujos custos de produção são menores do que os das plataformas concorrentes.
These Xbox layoffs are such a mess that staff across Activision Blizzard are texting *me* to try to find out if they might be impacted. Nearly 2,000 job cuts and people now just have to wait around to see if they’re part of the bloodbath
— Jason Schreier (@jasonschreier) January 25, 2024
O país também possui leis trabalhistas que tornam muito difícil e caro fazer qualquer demissão, especialmente quando isso acontece em número massivo. Assim, não se torna muito fácil acabar com equipes para remontá-las pouco tempo depois oferecendo salários e benefícios reduzidos.
Analistas consultados pela Games Industry mostram que o mercado não deve melhorar antes de 2025, e os próximos anos vão ser marcados por muitos fechamentos de estúdios. Com a competição constante de jogos como serviço e um calendário de lançamentos bastante cheio, muitos títulos simplesmente não vão ser lucrativos, resultando no fim de suas equipes.
No entanto, há a concordância de que a situação é temporária, e que nem todos os investimentos estão sendo paralisados. “O mercado de games é construído em bases muito sólidas. E quando as coisas começarem a crescer novamente, esperamos ver uma indústria de games mais sustentável e sábia emergindo do outro lado”, afirmou um executivo consultado pelo site.