Manobra é o primeiro movimento do Exército dos EUA na área desde que Venezuela realizou referendo pela anexação de Essequibo, território controlado pela Guiana que Caracas reivindica. Especialistas dizem que movimento dos EUA serve para dissuadir Maduro. ‘Momento não está bom e qualquer fagulha pode fazer se alastrar um fogo’, diz Lins sobre disputa entre Guiana e Venezuela
Aviões militares dos Estados Unidos sobrevoarão a região de Essequibo e demais áreas da Guiana em exercícios nesta quinta-feira (7), anunciou o governo norte-americano.
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Este é o primeiro movimento militar dos EUA na região desde o referendo que a Venezuela realizou, no domingo (3), sobre a anexação de Essequibo. O território, maior que a Inglaterra e o estado do Ceará, é atualmente controlado pela Guiana, mas o governo venezuelano o reivindica como parte de seu país.
Em comunicado, os EUA trataram a situação como “de rotina”. A Venezuela disse tratar-se de “provocação”
O que significa esse exercício militar dos EUA num momento em que crescem as tensões entre Venezuela e Guiana? O g1 procurou especialistas para entender esse movimento:
Dissuasão
“O anúncio de uma operação militar conjunta é um ato de dissuasão”, diz Vitelio Brustolin, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense.
Na doutrina militar, dissuasão é uma forma de desencorajar qualquer agressão do outro lado. Significa que, ao se posicionar na Guiana, os Estados Unidos mandam um recado à Venezuela de que o pequeno país não estará sozinho em caso de conflito.
Brusolin disse acreditar que dificilmente o presidente venezuelano Nicolás Maduro embarque em uma guerra contra a Guiana. A força dos dois países é desigual: a Guiana tem 3.400 soldados; a Venezuela, mais de 340 mil.
O baixo contingente de soldados da Guiana é um dos motivos pelos quais os EUA escolheram fazer um exercício militar aéreo, segundo ele. É mais rápido, e não daria para fazer exercícios com o pequeno contingente guianês, que ainda é mal equipado.
O professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra Ronaldo Carmona também fala que o exercício militar é um ato de dissuasão —mas vê, mais adiante, o gesto como estratégico para os EUA se instalarem na América do Sul.
“No curto prazo, posicionar-se para dissuadir ação militar da Venezuela em Essequibo. Do ponto de vista estratégico, posicionar-se de forma permanente em plena Amazônia. Não tenha dúvida de que os EUA cobrarão a proteção que agora oferecem à Guiana”, diz.
Morador carrega quadro com novo mapa divulgado na Venezuela contendo a região de Essequibo
Ariana Cubillos/AP
Não é rotina
Diferentemente do que aponta os EUA, não se trata de operação de rotina, diz Carmona.
“Afinal, estamos em meio a uma escalada do conflito e logo depois do anúncio de uma série de medidas pelo governo Maduro anteontem como consequências do plebiscito. Ou seja, não há ‘situação normal'”, afirmou o professor ao g1.
“O momento não está bom. Qualquer fagulha pode alastrar um fogo que não sabemos onde vai parar”, disse Marcelo Lins, comentarista da GloboNews, no Estúdio i.
As manobras, segundo a Embaixada dos Estados Unidos na Guiana, acontecerão em parceria com a Força Aérea guianesa e fazem parte de operações de rotina da parceria para “melhorar a segurança” local. Os dois países têm parceria militar desde 2022.
No fim de novembro, dias antes da realização do referendo, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, enviou à Guiana comandantes do alto escalão do Comando Militar dos Sul dos EUA para debater estratégias de defesa. Washington também estuda a construção de uma base militar em Essequibo.
Também nesta quinta, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, ligou para o presidente guianês, Irfaan Ali, para expressar apoio dos EUA à Guiana e debater a “cooperação robusta” na área de segurança.
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O anúncio das manobras conjuntas também acontece um dia depois de um helicóptero militar guianês desaparecer enquanto sobrevoava Essequibo. Além de um piloto e um co-piloto, cinco oficiais do alto escalão do Exército da Guiana estavam a bordo da aeronave, segundo autoridades do país. Eles fariam uma inspeção das tropas situadas na área de fronteira.
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