Eleições na Eslováquia podem fazer Ucrânia perder aliado fiel


Eleitores vão às urnas neste sábado (30). Robert Fico, que aparece na liderança empatada, disse que não deseja enviar munição para a Ucrânia. Eleitores da Eslováquia vão às urnas em eleições para o Parlamento, em 30 de setembro de 2023
REUTERS/Radovan Stoklasa
“Somos um país pacífico. Não enviaremos uma munição sequer para a Ucrânia”. Essa foi a mensagem de Robert Fico para apoiadores em um comício neste mês, em Banovce nad Bebravou, no oeste da Eslováquia. O ex-primeiro-ministro populista é um dos favoritos na disputa para as eleições do país, que acontece neste sábado (30).
Caso ele cumpra sua promessa, isso representará uma mudança radical para a Eslováquia. O país, até agora, era um forte aliado de sua vizinha do leste, a Ucrânia, na guerra contra a Rússia.
A Eslováquia forneceu armas e ofereceu forte apoio político a Kiev dentro da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
“Eles terão que se sentar de qualquer maneira e chegar a um acordo”, disse Fico sobre os países combatentes. “A Rússia nunca deixará a Crimeia, nunca deixará os territórios que controla.”
A vitória de Fico não é garantida. Nenhum partido é cotado para conseguir a maioria no Parlamento, e a formação de um governo de coalizão pode ser difícil.
Diplomatas ocidentais e autoridades em Kiev também dizem que um país pequeno como a Eslováquia só pode ir até certo ponto para alterar a política da União Europeia e da Otan.
Mas Fico, de 59 anos, chamou a atenção de Bruxelas e de outros países ao criticar as sanções contra a Rússia. Ele também pediu uma reaproximação com Moscou quando a guerra terminar.
Na campanha, Fico afirmou que a guerra “começou em 2014, quando nazistas e fascistas ucranianos começaram a assassinar cidadãos russos em Donbas e Luhansk”, ecoando a justificativa de Moscou para apoiar os separatistas que tomaram terras no leste da Ucrânia.
As pesquisas de intenção de voto apontam um empate técnico com a chapa liberal pró-Ocidente. A disputa acontece em um cenário onde os eleitores estão cansados da dor econômica causada pelas restrições da pandemia, da alta inflação ligada à guerra na Ucrânia e do aumento de imigrantes ilegais.
“Não devemos apoiá-los [a Ucrânia] com armas, porque o mal só gera mais mal”, disse a aposentada Eleonora Tanacova, 68 anos, ao ouvir o discurso de Fico. “Esta guerra nunca terá fim se continuarmos a apoiá-los.”
Um diplomata acredita que Fico hesitará em cortar o fornecimento de armas para a Ucrânia além dos estoques já esgotados do Exército, dada a importância econômica dos fabricantes de munição e de uma base de reparos.
E Bruxelas tem influência. Em questões de Estado de Direito, ela pode reter o apoio financeiro da União Europeia para a Eslováquia, que precisa muito dele com o déficit fiscal previsto em 6,85% do PIB este ano, o mais alto da zona do euro.
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